A prática de reutilização de dialisadores em tratamentos de hemodiálise e diálise gera muitas dúvidas entre os profissionais de saúde. Este artigo visa esclarecer o que é a reutilização de dialisadores, como funciona, quais são os riscos envolvidos e o que determina a legislação brasileira sobre o tema.
Princípios da Reutilização de Dialisadores em Hemodiálise
A reutilização de dialisadores consiste em aproveitar o mesmo capilar para realizar mais de uma sessão de hemodiálise. Segundo a legislação brasileira, os dialisadores podem ser utilizados no tratamento do mesmo paciente por até 20 vezes, desde que certas normas sejam respeitadas:
- Reprocessamento em máquinas registradas pela ANVISA.
- Volume interno de fibras adequado, sendo descartado se houver redução de 20%.
- Não reutilizar em pacientes com sorologia positiva ou desconhecida para hepatite B, C, HIV e COVID-19.
- Designação de um dialisador por paciente, devidamente identificado.
- Reutilizar dialisadores que não tenham a restrição de uso único e de proibido reprocessar
Procedimentos e Protocolos
O reuso envolve etapas rigorosas como limpeza, desinfecção, enxágue, esterilização e testes de desempenho. Estes procedimentos devem ser seguidos à risca para prevenir infecções e garantir a segurança do paciente.
Principais Etapas para o Reuso:
- Limpeza e Desinfecção: Uso de soluções químicas para eliminar agentes infecciosos.
- Esterilização: Processos para garantir a eliminação de todos os microrganismos.
- Testes de Desempenho: Verificação do volume interno das fibras e outros parâmetros de funcionamento.
O reuso exige infraestrutura específica, como salas de lavagem, esterilização e armazenamento, além de equipamentos adequados para garantir que todos os processos sejam seguros e eficazes.
Requisitos de Infraestrutura:
- Salas específicas para diferentes etapas do reuso.
- Equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados para os profissionais.
- Carrinhos de transporte para evitar contaminação cruzada.
Riscos
Embora considerado seguro quando realizado corretamente, o reuso de dialisadores apresenta riscos, como infecções por bactérias e contaminações cruzadas. Estudos indicam que falhas operacionais podem acentuar esses riscos (Golper, 2020) (Silva et al., 2020).
Principais riscos:
- Infecções causadas por falhas no controle de infecção.
- Remoção inadequada de sujidades dos dialisadores.
- Acidentes ocupacionais envolvendo perfurocortantes.
Conclusão
A reutilização de dialisadores, quando realizada de acordo com as normativas e boas práticas, pode ser segura e eficaz. No entanto, é imprescindível um rigoroso cumprimento das etapas de limpeza, desinfecção e esterilização para garantir a segurança dos pacientes e dos profissionais de saúde.
Evidências Científicas
Estudos recentes fornecem insights valiosos sobre os impactos e a eficácia do reuso de dialisadores:
- Reuso e Desempenho do Dialisador: A reutilização pode reduzir a eficiência do dialisador em termos de remoção de ureia e beta2-microglobulina, dependendo do material da membrana e do método de reprocessamento (Cheung et al., 1999).
- Riscos de Mortalidade: Estudos indicam que a reutilização de dialisadores não aumenta significativamente o risco de mortalidade em comparação com o uso único, embora existam variações dependendo do tipo de membrana e desinfetante utilizado (Port et al., 2001).
- Impacto Econômico: A reutilização de dialisadores é uma estratégia econômica que pode reduzir significativamente os custos de tratamento, especialmente em países em desenvolvimento (Miles & Friedman, 2008).
- Parâmetros Clínicos e Microbiológicos: A reutilização de dialisadores mostrou ser segura do ponto de vista clínico e microbiológico, sem aumento significativo nos níveis de endotoxinas ou sintomas intradialíticos (Ribeiro et al., 2019).
- Aprovação e Supervisão: Recomenda-se que os profissionais responsáveis pelo reprocessamento de dialisadores recebam treinamento adequado e sejam certificados para garantir a competência profissional e a segurança do paciente (National Kidney Foundation, 1997).