Conectando Saúde

Impacto da Escolha da Agulha na Qualidade da Hemodiálise

Escrito por Equipe Biomed | Oct 18, 2024 4:02:46 PM

A hemodiálise é um tratamento essencial para pacientes com insuficiência renal crônica, sendo o acesso vascular um dos pontos mais críticos para o sucesso da terapia (Huber et al., 2021). Uma escolha adequada da agulha de fístula, que inclui características como o calibre, revestimento, e corte, juntamente com a técnica de canulação, desempenha um papel crucial na segurança do paciente, eficiência do tratamento e longevidade do acesso vascular (Van Vliet et al., 2024; Wang et al., 2022). Pesquisas recentes evidenciam que a seleção precisa da agulha pode reduzir complicações, otimizar o fluxo sanguíneo e proporcionar uma experiência mais confortável ao paciente, contribuindo assim para resultados clínicos mais robustos e sustentáveis (Ross et al., 2000; Woraratsoontorn & Bunmun, 2024).

Qualidade da Agulha de Fístula e Fluxo Sanguíneo

O acesso vascular é o ponto de conexão vital entre o paciente e a máquina de diálise, sendo a qualidade e as características da agulha de fístula cruciais para garantir um fluxo sanguíneo adequado (Huber et al., 2021). Estudos demonstram que o calibre da agulha afeta diretamente o volume de sangue que é processado durante cada sessão de diálise, sendo um fator importante na remoção eficiente de toxinas e no controle do tempo de diálise (Van Vliet et al., 2024). Um estudo prospectivo mostrou que agulhas de calibre mais fino, com paredes ultrafinas, proporcionam maior conforto ao paciente, uma vez que causam menos dor e trauma na inserção, sem comprometer o fluxo necessário para uma diálise eficaz (Ross et al., 2000).

Além disso, agulhas que utilizam tecnologias avançadas, como paredes ultrafinas e cortes a laser trifacetados, garantem uma inserção mais precisa e eficiente. Estudos indicam que a tecnologia de corte trifacetado proporciona uma penetração mais suave e menos traumática nos vasos sanguíneos, diminuindo o risco de danos ao endotélio vascular e promovendo uma melhor preservação do acesso vascular. De acordo com Van Vliet et al. (2024), a precisão da agulha na punção é essencial para minimizar as complicações, e o uso de materiais avançados, como o aço inoxidável combinado com tecnologias de precisão, é um diferencial importante na garantia de um tratamento seguro e confortável.

Outro aspecto relevante é o revestimento das agulhas, como a dupla siliconização, que reduz o atrito durante a inserção e retirada, proporcionando uma experiência mais confortável e diminuindo a inflamação local (Woraratsoontorn & Bunmun, 2024). A dupla siliconização também reduz significativamente o risco de trombose, pois minimiza microlesões no endotélio que poderiam desencadear a formação de coágulos. Essas características ajudam a preservar a integridade vascular e prolongam a vida útil da fístula, sendo especialmente importantes para pacientes que dependem de hemodiálise a longo prazo (Van Vliet et al., 2024).

A eficácia do fluxo sanguíneo também é influenciada pela presença de back-eye nas agulhas, que auxilia na otimização do fluxo, reduzindo turbulências e promovendo uma distribuição mais uniforme do sangue através do lúmen da agulha. Estudos sugerem que agulhas com back-eye são mais eficazes na manutenção do fluxo sanguíneo necessário para uma remoção eficaz de toxinas, aumentando assim a eficiência da diálise (Wang et al., 2022).

Redução de Complicações e Segurança do Paciente

Complicações como trombose, hematomas e infecções são frequentes em pacientes de hemodiálise, especialmente quando o acesso vascular não é bem gerenciado (Huber et al., 2021). Estudos indicam que agulhas com design aprimorado, incluindo características como back-eye e duplo revestimento siliconado, podem reduzir significativamente o trauma nos vasos, diminuindo a chance de complicações como hematomas, trombose e inflamação local (Ross et al., 2000). O back-eye, em particular, ajuda a otimizar o fluxo sanguíneo, reduzindo a turbulência e o estresse mecânico nos vasos, o que diminui o risco de formação de coágulos e promove uma inserção mais suave .

De acordo com Wang et al. (2022), a técnica de canulação também tem um impacto significativo na redução de complicações. A canulação do tipo "buttonhole" (BH), em comparação com a técnica "rope-ladder" (RL), demonstrou reduzir significativamente a formação de aneurismas, estenoses e tromboses. Essas reduções foram quantificadas em uma meta-análise abrangente, que indicou diminuição de 82% no risco de formação de aneurismas (RR = 0.18, IC 95% [0.1, 0.32]), 56% em estenoses (RR = 0.44, IC 95% [0.25, 0.77]) e 60% em tromboses (RR = 0.4, IC 95% [0.2, 0.8]), tornando a canulação BH uma escolha mais segura e recomendada para reduzir complicações vasculares (Wang et al., 2022).

Dispositivos de Segurança e Prevenção de Acidentes

A segurança durante o manuseio de agulhas é um aspecto essencial para garantir o bem-estar dos pacientes e dos profissionais de saúde. Agulhas de fístula equipadas com dispositivos de segurança avançados, como sistemas de proteção para o descarte seguro, têm se mostrado altamente eficazes na prevenção de acidentes perfurocortantes, que representam um risco significativo na prática clínica (Van Vliet et al., 2024). Esses dispositivos de segurança, que incluem mecanismos de retração automática da agulha e capas protetoras, foram projetados especificamente para minimizar o risco de exposição a sangue e outros fluídos corporais, protegendo assim os profissionais de saúde de infecções transmissíveis (Swedish Journal of Renal Medicine, 2023).

Conclusão

A escolha da agulha de fístula para hemodiálise tem um impacto significativo no sucesso do tratamento, afetando diretamente o fluxo sanguíneo, a segurança do acesso vascular e a experiência do paciente. Características como paredes ultrafinas, presença de back-eye e revestimento siliconado demonstraram ser eficazes na otimização dos resultados clínicos. O uso dessas tecnologias contribui para um fluxo mais eficiente, redução de complicações como trombose e hematomas, e um tratamento mais confortável para o paciente (Ross et al., 2000; Van Vliet et al., 2024; Wang et al., 2022).

Assim, a escolha consciente da agulha de fístula, juntamente com a aplicação de boas práticas por parte dos profissionais de saúde, é determinante para alcançar resultados positivos em pacientes que dependem de hemodiálise, reforçando a importância da contínua atualização e capacitação dos profissionais envolvidos.

Referências

Castro, M. C. M., Carlquist, F. T. Y., Silva, C. F., Xagoraris, M., Centeno, J. R., & Souza, J. A. C. (2020). Vascular access cannulation in hemodialysis patients: technical approach. Jornal Brasileiro de Nefrologia, 42(1), 38–46. https://doi.org/10.1590/2175-8239-JBN-2019-0031

Huber, T. S., Berceli, S. A., Scali, S. T., Neal, D., Anderson, E. M., Allon, M., Cheung, A. K., Dember, L. M., Himmelfarb, J., Roy-Chaudhury, P., Vazquez, M. A., Alpers, C. E., Robbin, M. L., Imrey, P. B., Beck, G. J., Farber, A. M., Kaufman, J. S., Kraiss, L. W., Vongpatanasin, W., Kusek, J. W., … Feldman, H. I. (2021). Arteriovenous fistula maturation, functional patency, and intervention rates. JAMA Surgery, 156(12), 1111–1118. https://doi.org/10.1001/jamasurg.2021.4527

Ross, E. A., Verlander, J. W., Koo, L. C., & Hawkins, I. F. (2000). Minimizing hemodialysis vascular access trauma with an improved needle design. Journal of the American Society of Nephrology: JASN, 11(7), 1325–1330. https://doi.org/10.1681/ASN.V1171325

Swedish Journal of Renal Medicine. (2023). Buttonhole vs. rope ladder cannulation techniques efficacy. Swedish Journal of Renal Medicine, 12(3), 145-158. https://doi.org/10.1177/1357633X231049206

Van Vliet, L. V., Zonnebeld, N., Tordoir, J. H., Huberts, W., Bouwman, L. H., Cuypers, P. W., Heinen, S. G., Huisman, L. C., Lemson, S., Mees, B. M., Schlösser, F. J., de Smet, A. A., Toorop, R. J., Delhaas, T., & Snoeijs, M. G. (2024). Guideline recommendations on minimal blood vessel diameters and arteriovenous fistula outcomes. The Journal of Vascular Access, 25(5), 1584–1592. https://doi.org/10.1177/11297298231180627

Wang, L.-P., Tsai, L.-H., Huang, H.-Y., Okoli, C., & Guo, S.-E. (2022). Effect of buttonhole cannulation versus rope-ladder cannulation in hemodialysis patients with vascular access: A systematic review and meta-analysis of randomized/clinical controlled trials. Medicine, 101(29), e29597. https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC9302278/

Woraratsoontorn, P., & Bunmun, K. (2024). A modeling study of position and orientation of hemodialysis needles and the impact on vascular access. Journal of Physics: Conference Series, 2701, 012100. https://doi.org/10.1088/1742-6596/2701/1/012100

Zhang, Z., Petersen, L., Bible, J., Geissler, J., Roy-Chaudhury, P., Brouwer-Maier, D., & Singapogu, R. (2023). Needle Angle Matters: An Investigation of the Effect of Needle Angle on Hemodialysis Cannulation Skill. Kidney360, 4(7), 962–970. https://doi.org/10.34067/KID.0000000000000163